“Números”
por Viegas Fernandes da Costa
Pela segunda vez consecutiva o grupo “Os Geraldos”, da Unicamp, vem ao Festival Internacional de Teatro Universitário de Blumenau, e pela segunda vez entusiasma a plateia. Em 2010 trouxe aos palcos do Teatro Carlos Gomes o espetáculo “Hay amor”, dirigido por Verônica Fabrini. Apesar da ótima recepção do público que assistiu à comédia “brega-romântica” do grupo de Campinas, “Hay amor” não convenceu os jurados do FITUB, e acabou sendo a única peça da Mostra Universitária sem levar nenhuma premiação; fato que para muitos que acompanharam o Festival, caracterizou-se como uma tremenda injustiça.
Cícero com seu acordeão e a bailaria de movimentos e maquiagem grotescos (Foto: Daniel Zimmermann) |
Neste ano “Os Geraldos” apresentaram a montagem “Números”, uma comédia que alude à tradição circense. Com texto de Carolina Delduque e direção de Roberto Mallet, a peça apresenta uma série de números circenses encadeados pela atuação do palhaço Cícero (representado pelo ator Douglas Rodrigues Novais), uma espécie de mestre-de-cerimônias que toca Acordeão e participa de alguns esquetes. Cícero, a propósito, é sem sombra de dúvidas a grande presença da montagem. Versátil, intenso, com seu sorriso lindo, suas tiradas inteligentes e sua falta de modéstia, encanta, diverte e transporta o público para o interior do universo representado no palco. O destaque da sua atuação não ofusca, entretando, o brilho e a qualidade dos demais atores/personagens. O “leão do himalaia”, por exemplo (uma mistura de carneiro, lhama e ser humano que podia muito bem ter brotado das páginas de Jorge Luís Borges), com sua atuação contida, quase minimalista, enternece o público e remete ao lugar do artista-operário explorado pela arte. Também a contorcionista grávida, com seus truques baratos apresentados a uma plateia que se deseja enganada; o palhaço que se atrapalha com a cadeira em uma apresentação com desfecho previsível, porém encantador; a bailarina com seus movimentos desengonçados e sua maquiagem grotesca; a atiradora de facas e sua temerosa assistente-vítima; todos personagens do universo de uma arte desvalida em recursos financeiros, porém rica em criatividade e teimosa por exisitir e poder dizer. Em seu conjunto, “Números” constitui-se como metáfora do talento humano e da sua capacidade de sobrevivência.
Enfim, o que “Os Geraldos” fazem sobre o palco-picadeiro é mesmo comovente poesia, que provoca o riso solto, emociona e não descuida da tradição do conteúdo.
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