"Visita da velha senhora"
Viegas
Fernandes da Costa
Crédito da imagem: Daniel Zimmermann |
Na noite de domingo, sob a direção de
Mateus Moscheta, o Grupo Teatro Universitário de Maringá (TUM), da Universidade
Estadual de Maringá, subiu ao Palco do Grande Auditório Heinz Geyer para
apresentar a peça “Visita da velha senhora”, escrita em 1956 pelo dramaturgo
suíço Friedrich Dürrenmatt (1921-1990). A montagem dos paranaenses participa da
Mostra Universitária Nacional do 25º. Festival Internacional de Teatro
Universitário de Blumenau.
Sob forte influência de Bertold Brecht,
do qual Dürrenmatt era discípulo, “Visita da velha senhora” constitui-se como
uma “comédia trágica”, segundo definição de seu próprio autor, e conta a
história da pequena cidade de Gullen, empobrecida e esquecida pelo resto do
mundo. Sequer os trens param na estação de Gullen, e seus habitantes miseráveis
sobrevivem da sopa distribuída pelo poder público. Certo dia, entretanto, para
espanto de todos, desembarca na estação a senhora Clara Zahanassian, mulher
muito rica e que no passado fora vítima de um julgamento injusto que a degredara
de Gullen, fazendo com que sofresse as penas da vida. Retornara à cidade para
comprar a justiça que não tivera no passado, e oferta a cada família do lugar
uma verdadeira fortuna em dinheiro caso Alfredo Schill, seu antigo amante e o
responsável por seus infortúnios, fosse morto. A proposta leva então os
habitantes de Gullen da miséria material à miséria moral. Tendo vivenciado a
Segunda Guerra Mundial, Dürrenmatt, diferentemente de Brecht, não acreditava na
transformação social, e sua visão absolutamente pessimista a respeito da
natureza humana pode ser claramente percebida neste texto encenado pelo TUM. “Visita
da velha senhora” já recebeu infinitas montagens no Brasil e no exterior, bem
como exerce grande influência na obra de diversos autores. A título de exemplo destas
influências podemos citar o romance “Tieta do Agreste” (1977), do escritor brasileiro
Jorge Amado, e o filme Dogville (2003), dirigido pelo dinamarquês Lars Von Trier.
Crédito da imagem: Daniel Zimmermann |
O espetáculo apresentado pelo grupo do
Paraná manteve-se bastante fiel ao texto original. Com um cenário austero, a
peça destacou-se principalmente pelo figurino e pela movimentação dos atores,
que modificavam os elementos cênicos a fim de criar as ambientações sugeridas
pela narrativa. Por outro lado, o excesso de nervosismo fez com que diversos
atores se atrapalhassem nas falas, o que acabou prejudicando a apresentação.
Também a iluminação nem sempre esteve adequada. Ainda assim, os aspectos
positivos da peça, sustentada pelo texto brilhante de Dürrenmatt, tornou
possível uma boa percepção do espetáculo por parte do público. Vale destacar
ainda algumas soluções dramatúrgicas encontradas pela direção para representar
determinadas cenas, como a do início do espetáculo, quando da passagem do trem
por Gullen. A solução encontrada pelo diretor para representar a composição férrea
foi capaz de criar uma estética profundamente poética.
Mesclando humor negro e drama, “Visita
da velha senhora”, apresentada pelo Grupo Teatro Universitário de Maringá,
apesar de não entusiasmar, conseguiu comunicar o espírito do texto de Friedrich
Dürrenmatt, levando o público ao incômodo do reconhecimento com uma natureza
humana vil, hipócrita e egoísta.
A última ceia, na visão de Mateus Moscheta Crédito da imagem: Daniel Zimmermann |
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