segunda-feira, 9 de julho de 2012

A "Visita da velha senhora"

"Visita da velha senhora"

Viegas Fernandes da Costa

Crédito da imagem: Daniel Zimmermann
Na noite de domingo, sob a direção de Mateus Moscheta, o Grupo Teatro Universitário de Maringá (TUM), da Universidade Estadual de Maringá, subiu ao Palco do Grande Auditório Heinz Geyer para apresentar a peça “Visita da velha senhora”, escrita em 1956 pelo dramaturgo suíço Friedrich Dürrenmatt (1921-1990). A montagem dos paranaenses participa da Mostra Universitária Nacional do 25º. Festival Internacional de Teatro Universitário de Blumenau.
Sob forte influência de Bertold Brecht, do qual Dürrenmatt era discípulo, “Visita da velha senhora” constitui-se como uma “comédia trágica”, segundo definição de seu próprio autor, e conta a história da pequena cidade de Gullen, empobrecida e esquecida pelo resto do mundo. Sequer os trens param na estação de Gullen, e seus habitantes miseráveis sobrevivem da sopa distribuída pelo poder público. Certo dia, entretanto, para espanto de todos, desembarca na estação a senhora Clara Zahanassian, mulher muito rica e que no passado fora vítima de um julgamento injusto que a degredara de Gullen, fazendo com que sofresse as penas da vida. Retornara à cidade para comprar a justiça que não tivera no passado, e oferta a cada família do lugar uma verdadeira fortuna em dinheiro caso Alfredo Schill, seu antigo amante e o responsável por seus infortúnios, fosse morto. A proposta leva então os habitantes de Gullen da miséria material à miséria moral. Tendo vivenciado a Segunda Guerra Mundial, Dürrenmatt, diferentemente de Brecht, não acreditava na transformação social, e sua visão absolutamente pessimista a respeito da natureza humana pode ser claramente percebida neste texto encenado pelo TUM. “Visita da velha senhora” já recebeu infinitas montagens no Brasil e no exterior, bem como exerce grande influência na obra de diversos autores.            A título de exemplo destas influências podemos citar o romance “Tieta do Agreste” (1977), do escritor brasileiro Jorge Amado, e o filme Dogville (2003), dirigido pelo dinamarquês Lars Von Trier.
Crédito da imagem: Daniel Zimmermann
O espetáculo apresentado pelo grupo do Paraná manteve-se bastante fiel ao texto original. Com um cenário austero, a peça destacou-se principalmente pelo figurino e pela movimentação dos atores, que modificavam os elementos cênicos a fim de criar as ambientações sugeridas pela narrativa. Por outro lado, o excesso de nervosismo fez com que diversos atores se atrapalhassem nas falas, o que acabou prejudicando a apresentação. Também a iluminação nem sempre esteve adequada. Ainda assim, os aspectos positivos da peça, sustentada pelo texto brilhante de Dürrenmatt, tornou possível uma boa percepção do espetáculo por parte do público. Vale destacar ainda algumas soluções dramatúrgicas encontradas pela direção para representar determinadas cenas, como a do início do espetáculo, quando da passagem do trem por Gullen. A solução encontrada pelo diretor para representar a composição férrea foi capaz de criar uma estética profundamente poética.
Mesclando humor negro e drama, “Visita da velha senhora”, apresentada pelo Grupo Teatro Universitário de Maringá, apesar de não entusiasmar, conseguiu comunicar o espírito do texto de Friedrich Dürrenmatt, levando o público ao incômodo do reconhecimento com uma natureza humana vil, hipócrita e egoísta. 
A última ceia, na visão de Mateus Moscheta
Crédito da imagem: Daniel Zimmermann

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