Ascensão e queda da cidade de Mahagonny
por Viegas Fernandes da Costa
O espetáculo “Ascensão e queda da cidade de Mahagonny” abriu, na noite de sábado (10/07) a Mostra Universitária Nacional” do 23° Fitub. A peça foi montada e apresentada pela Cia. Teatral Acidental (Unicamp – Campinas/SP) sob a direção de Marcelo Lazzarato, a partir de uma adaptação do texto Mahagonny, de 1927, escrito pelo dramaturgo alemão Bertold Brecht (1898-1956). Em 1930, Brecht revisou o texto original e, através de uma parceria com o compositor Kurt Weill, produziu “Ascensão e queda da cidade de Mahagonny” (“Aufstieg und Fall der Stadt Mahagonny”). A intenção de Brecht com esse “épico musical”, que narra a história de três fugitivos encurralados no deserto e ali decidem fundar uma cidade chamada Mahagonny, arapuca que tem como isca o prazer, era, entre outras coisas, o de questionar o modelo de ópera até então estabelecido.
A adaptação da Cia. Teatral Acidental procurou manter o texto e a ambientação criados por Brecht, porém buscou “atualizar” a peça inserindo elementos identificados com a cultura pop, como a substituição das músicas de Weill por melodias dos Beatles, por exemplo. Esta opção musical nos leva a pensar se o grupo não pretendia situar temporalmente Mahagonny em um referente moral e cultural ligado à contracultura. Se “Ascenção e queda...” narra a história de uma utopia onde todos os prazeres são permitidos, podemos conjecturar na geração que cresceu ouvindo os Beatles e que na década seguinte viveu o Vietnã e Woodstock. A inserção da melodia de “Imagine” (Lennon) no repertório reforça a tese. A mesma geração que mais tarde envelheceu e teceu uma malha moral repressora, criando filhos de uma “geração perdida” e – por que não dizer? – careta. Também Mahagonny afunda na repressão, nas leis sem sentido, como aquela que proíbe arrotar, e morre. No cerne de tudo, a crítica de Brecht – e da Cia. Teatral Acidental – à ideia de que o dinheiro pode comprar a felicidade; bem como a denúncia do capitalismo.

Aplaudida entusiasticamente pelo grande público presente ao Teatro Carlos Gomes, “Ascensão e queda da cidade de Mahagonny” deixou a impressão, entretanto, que a adaptação poderia ousar mais, antropofagizando Brecht para vomitá-lo e, assim, construir um espetáculo que dialogasse de forma ainda mais contundente com os tempos que vivemos.
Fotos: Daniel Zimmermann / CCM Furb
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