Viegas Fernandes da Costa
... então o sujeito vai ao antigo Hotel Majestic, hoje transformado em casa de cultura, sobe ao segundo andar e se depara com o quarto de Quintana. A pequena cama, a máquina de escrever, os livros, o copo sobre o jornal, a caixa de bombos sobre a estante, os cigarros... O poeta ainda sussurra seus versos.
O sujeito tantas vezes já subira as antigas escadarias do hotel, nunca antes deparara-se com a existência daquele quarto reconstituído. Presente inesperado! A mulher que ama, ao seu lado, pede-lhe que leia o poema afixado à parede, na ante sala. Um pouco envergonhando - são muitos os turistas por ali - titubeia as primeiras palavras, os primeiros versos. Quando percebe, é um barco navegando em fonemas líquidos, a potência da voz fenecendo, os versos misturados boiando em seus olhos embaçados.
Não conhecera Quintana pessoalmente, nunca privara deste privilégio. Mas a caixa de bombons guardada no alto da estante, a pequena térmica de café, a desordem no cinzeiro, garantiam-lhe tratar-se de poeta humano, viajante da solidão comum.
... então o sujeito aperta a mão da mulher que ama, beija-lhe a nunca, e sai para beber um café no pátio térreo do antigo Hotel Majestic, hoje transformado em casa de cultura. Cataventos brilhavam no horizonte.
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