terça-feira, 13 de julho de 2010

O abajur lilás

O abajur lilás


por Viegas Fernandes da Costa

Na noite do domingo (11/07) entrou em cena, no palco do “Pequeno Auditório Willy Sievert, do Teatro Carlos Gomes, o grupo de teatro “Por que não?, composto por estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (RS). Sob a direção de Felipe Martinez, apresentaram ao público a peça “O abajur lilás”, escrita por Plínio Marcos em 1969.
O espetáculo conta a história de três prostitutas que vivem sob o jugo despótico de um cafetão homossexual, dono de um prostíbulo, e seu capanga, um monossilábico e frio torturador. A montagem original, realizada pelo grupo “Por que não?”, ocorria no interior de um bar verdadeiro, e os personagens interagiam com os clientes desse bar. Visando ampliar as possibilidades de circulação do espetáculo, o grupo resolveu readaptá-lo para o palco. Entretanto, o “bar” permanece no horizonte da peça, principalmente nos momentos em que o cafetão dirige a palavra ao público, intimando-o enquanto frequentador do seu estabelecimento e dos corpos das prostitutas, bem como na recepção dos espectadores, momento em que os personagens perambulam entre as poltronas a fim de interagir e provocar “possíveis clientes”.
O clima inicial criado pelos atores foi, possivelmente, a maior virtude do espetáculo. A interação com o público criou uma ambientação e uma expectativa em relação à peça que, ao se apagarem as luzes da plateia, deixou a todos em suspenso. Entretanto, a forma como os atores lidaram com o texto de Plínio Marcos e o uso dos elementos de cena, que sobravam sem uso no palco, geraram certa frustração.
Interpretar Plínio Marcos não é tarefa simples. O realismo cruel e a complexidade dos personagens exigem do ator não apenas estudo e preparação cuidadosos, mas também grande nível de entrega. Em Plínio, a representação não basta. Também o fato de vivermos uma realidade contemporânea de extrema violência urbana, exige que o texto de Plínio Marcos seja relido e desterritorializado de sua condição original, a fim de que o público saia do conforto que naturaliza a violência para o desconforto que o inédito pode ofertar. Ao representarem os personagens de “O abajur lilás”, os atores não conseguiram construir este inédito. Ao assistirmos a peça, ficou claro que aqueles personagens eram tão somente isso, personagens de um texto dramatúrgico. Se a intenção era a de transportar a plateia para o interior de um bar licencioso, uma whiskeria, e fazê-lo partícipe do drama vivenciado pelas prostitutas, subjugadas pela força do verbo, do dinheiro, do uso venal de seus corpos e da brutalidade física, tal intento não se concretizou. E a forma esteriotipada como a homossexualidade do cafetão foi apresentada, incorre na possibilidade de se reforçar, junto ao público, a perspectiva simplista da diferença. Se as prostitutas são agentes e pacientes de uma realidade social, econômica e moral repressora, o cafetão homossexual e seu chacal também o são, e esta perspectiva podia ter sido melhor explorada.
Por fim, apesar dos problemas, das possibilidades não exercitadas e de certo pudor por parte dos atores, o espetáculo arrancou do público aplausos entusiasmados.

Fotos: Daniel Zimmermann / CCM Furb

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