quarta-feira, 21 de julho de 2010

"Dica de leitura" especial sobre o FITUB

O quadro "Dica de Leitura", do programa "Expressão" (FurbTV), discutiu o uso de autores clássicos nas peças do 23º Festival Internacional de Teatro Universitário de Blumenau (FITUB). Assista AQUI o vídeo produzido.

domingo, 18 de julho de 2010

Espetáculos premiados no 23° FITUB

Ascensão e queda da cidade de Mahagonny (Cia de Teatro Acidental - Unicamp/SP )

Prêmios: Melhor espetáculo, Concepção sonora, Conjunto de atores.




Canoeiros da Alma (Cia de Teatro da Margem - UFU/MG)

Prêmios: Iluminação, Ator, Prêmio especial do júri pela pesquisa com a cultura regional e com o espaço cênico.








O abajur lilás (Grupo de Teatro Por que não? - UFSM/RS)

Prêmios: Atriz, Direção.





A noiva e o condutor (Grupo Coral das Artes Cênicas - IFCE/CE)

Prêmios: Figurino.





A serpente (Grupo CPT - UFRJ/RJ)

Prêmios: Cenografia.





A cena é pública (Grupo de Teatro de Operações - Unirio/RJ)

Prêmios: Menção honrosa.





Tartarugas e Migrações (Novo Núcleo Teatro - Universidade Nova de Lisboa/Portugal)

Prêmios: Espetáculo Destaque da Mostra Paschoal Carlos Magno (Ibero-Americana).







Fotos: Daniel Zimmermann / CCM Furb

Premiados do 23° FITUB

Melhor espetáculo: “Ascensão e Queda da Cidade de Mahagonny”, da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP

Espetáculo Destaque da Mostra Paschoal Carlos Magno: TARTARUGAS E MIGRAÇÃO, Grupo Novo Núcleo Teatro da Universidade Nova de Lisboa – Portugal

Figurino: Amidete Aguiar, por “A Noiva e o Condutor”, do Instituto Federal de Ciências e Tecnologia do Ceará

Cenografia: Bosco Bedeschi e Camila Sá, por “A Serpente”, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ

Iluminação: Camila Tiago e Nádia Yoshi, por “Canoeiros da Alma”, da Universidade Federal de Uberlândia - UFU
 
Concepção sonora: Marcelo Lazzaratto e Cia de Teatro Acidental, por “Ascensão e Queda da Cidade de Mahagonny”, da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP

Conjunto de atores: Cia de Teatro Acidental, por “Ascensão e Queda da Cidade de Mahagonny”, da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP

Atriz: Aline Ribeiro, Como Célia, em “O Abajur Lilás”, da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM

Ator: Samuel Giacomelli, como Homem que abandona a esposa, em “Canoeiros da Alma”, da Universidade Federal de Uberlândia - UFU

Direção: Felipe Martinez, por “O Abajur Lilás”, da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM

Prêmio especial do júri: Coletivo Teatro da Margem, da Universidade Federal de Uberlândia, pela pesquisa com a cultura regional e com o espaço cênico.

Menção honrosa: Teatro de Operações da UNIRIO, pelo trabalho de criação Coletiva.

sábado, 17 de julho de 2010

Paralelas

Paralelas


por Viegas Fernandes da Costa

O espetáculo “Paralelas”, da”SinoS Cia de Teatro”, encerrou a Mostra Blumenauense do 23° Fitub, na noite do dia 16/07 na Fundação Cultural de Blumenau. Sob a direção de Victor Hugo Carvalho de Oliveira, “Paralelas” é uma adaptação do texto “Sobre amores e cigarros”, de Marcelo Bourscheid.
No palco, a história de uma mulher dividida em duas (interpretada pelas atrizes Fernanda Raupp e Gisele Bauer – que também assina a adaptação do texto), casada com um escritor mergulhado em seu narcisismo literário, leitor de Heidegger e que não percebe as necessidades humanas de afeto, sexo e cumplicidade da esposa. Para além de uma reflexão sobre a condição feminina e das frustrações íntimas da personagem, que renuncia aos seus projetos profissionais e pessoais para viver o sonho do marido literato e medíocre, a peça consegue discutir também a valoração da arte na sociedade contemporânea e seu significado para os sujeitos que se aproximam dela.
O cenário é dividido em duas partes, dando a impressão de se estar olhando para duas imagens refletidas no espelho; composto apenas por dois tapetes, duas cadeiras, pilhas de livros e o paletó (que representa o escritor – ou “poetinha de merda”, como é referido pela personagem), no qual contracenam as duas atrizes representando facetas de uma mesma mulher, cada qual em um dos lados do cenário, sem se tocarem. O texto – um monólogo interpretado a duas vozes – é vertiginoso, intenso, visceral, tal qual a interpretação das atrizes, que se entregam à personagem com uma força que impressiona e emociona. A proximidade da plateia, disposta no entorno da cena, a trama dramática desenrolando-se no centro da “arena”, assim como a movimentação das atrizes, excepcionalmente sintonizadas entre si, tornam o público íntimo das angústias, desventuras, indecisões e decisões da personagem.
Com sua estética enxuta, onde todos os elementos de cena têm sua função, uma trilha sonora com canções de Chico Buarque e a extraordinária entrega das atrizes aos papéis, “Paralelas” arrebatou o público e foi uma das melhores peças apresentadas neste 23° Fitub.

Fotos: Divulgação.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

A cena é pública

A cena é pública

por Viegas Fernandes da Costa

Com uma proposta de intervenção urbana, na tarde do dia 13/07 apresentou-se o “Grupo de Teatro de Operações”, da UNIRIO (RJ), com o espetáculo “A cena é pública”, na praça do Teatro Carlos Gomes e seus entornos.
Considerando a alma taciturna, prussiana, de Blumenau, a proposta do grupo carioca chamou a atenção pela forma como os atores ocuparam o espaço da praça e da rua, interferindo no cotidiano das pessoas e tentando promover uma situação de tumulto, capaz de convocar não apenas o público já presente ao Festival de Teatro, mas principalmente os transeuntes tangidos pela rotina, a se mobilizar ao redor das ações dramáticas.
O espetáculo inicia com uma sátira à atual conjuntura política brasileira. A cena inicial apresenta um debate entre os principais candidatos à presidência, coordenado por um Nelson Mandela dessacralizado (o ex-presidiário, como a todo instante é referido) e por um José Sarney preocupado em não ser envenenado pelo público. Quanto aos debatedores, nada têm a dizer, e quando convocados a expor suas propostas e questões, limitam-se a luta corporal com seu adversário, transformando a ágora em ringue. Entretanto, a crítica política inerente ao desenrolar da cena não ultrapassa os limites do senso comum, constituindo-se por demais simplista e limitando-se a reproduzir clichês já absorvidos em nossa sociedade. Vale porém destacar a cena da lavanderia, momento em que bandeiras brasileiras são lavadas no chafariz da praça, e a do enforcamento de José Sarney na fachada do Teatro Carlos Gomes. Esta última, se por um lado gerou um impacto visual interessante (não é comum ver-se um corpo balançando enforcado em um dos principais pontos turísticos da cidade), por outro quedou vazia, afinal, qual o motivo do enforcamento? Da forma como foi representado, o ato extremo do senador constitui-se como suicídio, e não como lapidação pública. Também a crítica à sociedade da informação se fez presente, notadamente quando televisores são destruídos, e houve uma tentativa de problematização das relações entre público e atores. Da mesma forma como o público era convidado a se deslocar constantemente em busca das ações dramáticas, era expulso dos espaços para que estes pudessem servir de arena aos atores. O espetáculo contou ainda com muita pirotécnia (inclusive com o uso de motosserra e a queima de fogos de artifício), movimentação (onde atores ocupam fachadas de prédios públicos e privados no entorno do “Carlos Gomes”) e uso de efeitos sonoros impactantes.
Se compreendido enquanto intervenção urbana, “A cena é pública” teve seus méritos. Conseguiu mobilizar as pessoas e fazer um uso diferenciado do espaço público (apesar da cena final – uma guerra de água entre público e atores – , completamente desnecessária e que afastou muitos daqueles que haviam se aproximado para acompanhar o espetáculo). Porém, se pretendido enquanto teatro de rua, “A cena é pública” fracassou completamente. O uso de efeitos visuais e sonoros impactantes prestou-se a tentar camuflar as deficiências vocais e de representação dos atores, bem como uma dramaturgia extremamente pobre e, em muitos momentos, completamente ausente.
Lamentável, diante das possibilidades que o “Grupo de Teatro Operações” podia ter explorado.

Nota: O espetáculo “A cena é pública” foi apresentado também na manhã do dia 14/07, no pátio do Campus I da Universidade Regional de Blumenau.

Fotos: Daniel Zimmermann / CCM Furb

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Canoeiros da alma

Canoeiros da alma

por Viegas Fernandes da Costa

Na noite do dia 14/07, sob o frio intenso e úmido que se abateu sobre o Vale do Itajaí, o “Coletivo Teatro da Margem”, da Universidade Federal de Uberlândia (MG), apresentou o espetáculo “Canoeiros da alma”, no galpão da central de veículos da Prefeitura Municipal de Blumenau. O espetáculo integra a Mostra Universitária Nacional, e a escolha do local da apresentação já indicava tratar-se de peça pouco convencional.
Com texto de Luis Carlos Leite e direção de Narciso Telles, “Canoeiros da alma” surgiu das leituras que o coletivo fez do universo das pessoas que habitam as margens do rio no Vale do Jequitinhonha. Rio que é sempre diferente, quando diferentes os olhos ou a alma de cada um que busca suas águas, suas margens e as experiências que se constróem em seu entorno. O sagrado e o profano, a vida e a morte, a pobreza e a riqueza, o dito e o não-dito, candura e violência são temas que surgem no desenrolar do espetáculo, que apesar de possuir uma narrativa que o conduz, é composto por muitas peças que se sobrepõem, muitas vezes de forma simultânea, convidando o público a ter uma experiência direta e íntima com os personagens.
“Canoeiros da alma” não é um espetáculo que se assiste, mas do qual se participa. Não há poltronas, arquibancada ou palco, mas um imenso pátio mergulhado na penumbra e no qual atores e público se misturam, os focos de luz indicando pontos de tensão dramática para onde cada espectador é convidado a dirigir sua atenção e no qual se desvelam tipos e suas histórias intrínsecas: um grupo jogando cartas, uma procissão, um oratório, os vendedores ambulantes, o suicida, os noivos, as lavadeiras, a sensualidade da vida e a violência da morte, velas, gritos, voz e força, enfim, todo um universo complexo e do qual é impossível se apropriar enquanto totalidade una. O que se tem é o tumulto da vida real, a azáfama de uma feira, a solidão de multidão, mas que a peça procura problematizar quando propõe histórias que possuem voz e rosto, histórias de gente anônima das quais sequer supomos existência. E todos lavam suas roupas, e todos lavam seus corpos, como se a alma estivessem a lavar.
Sem exageros, um cenário intimista ao qual o público é convidado a tocar e interagir, e com figurinos, trilha sonora e elementos cênicos que procuram inserir a todos no contexto simbólico do Vale do Jequitinhonha, “Canoeiros da alma” impressionou e arrebatou o público.

Fotos: Divulgação e Daniel Zimmermann / CCM Furb.

A grande parada

A grande parada (ou o que ainda resta dela)


por Viegas Fernandes da Costa

O 23° Festival Internacional de Teatro Universitário de Blumenau apresenta também a Mostra Blumenauense de Teatro, nas dependências da Fundação Cultural de Blumenau. Na noite do dia 12/07 entrou em cena o grupo “VísCera Teatro”, com a peça “A grande parada (ou o que ainda resta dela)”, sob a direção de Pépe Sedrez.. O espetáculo é uma adaptação do texto “Terror e miséria no Terceiro Reich”, de Bertold Brecht, escrito em 1938.
“A grande parada” está ambientada na Alemanha nazista da década de 1930, e retrata a miséria e a falta de liberdades civis experimentadas pelo povo alemão durante a constituição do Estado nazista (o III Reich) pretendido por Adolf Hitler, notadamente sob a ótica da luta de classes, onde críticos do regime – e até mesmo pessoas cuja ingenuidade levava-as a declarar suas insatisfações – eram detidas e barbarizadas pelas forças de repressão. Tendo como cenário um campo de concentração (imagem de um campo real, mas também metáfora que aponta para os “campos de concentração” simbólicos: a casa, a fábrica, a rua; espaços vigiados e reprimidos, verdadeiros panópticos de um Estado autoritário que a todos vê, escuta e pune), “A grande parada” mostra que os tentáculos do nazismo não atingiram apenas judeus, mas todos aqueles que destoavam ou questionavam o discurso oficial e, em especial, aponta para a perseguição promovida aos comunistas.
Nessa montagem do “VísCera Teatro” destacam-se cenário, elementos cênicos, a excepcional maquiagem dos atores, bem como a trilha sonora, desenvolvida ao vivo por uma das atrizes. O espetáculo fez uso ainda de recursos audiovisuais, projetando ao fundo da cena imagens de paradas militares e campos de concetração nazistas. Também a proximidade do público, disposto sobre o palco numa espécie de arena, contribuiu para aproximar os espectadores dos dramas interpretados pelos atores. Entretanto, a opção do “VísCera” em montar um espetáculo por demais zeloso ao texto de Brecht, pareceu-me um problema para a peça. Vale dizer aqui que o Bertold Brecht da década de 1930 está morto. Não é mais possível representar uma peça que pretende dizer aquilo que se pretendia na sua concepção. Tempo e sociedade são outros, tal qual nossos signos de identificação. É necessário matar Brecht uma segunda vez para representá-lo no tempo presente. Apesar do subtítulo da peça (“ou o que ainda resta dela”) indicar para um tempo diferente daquele em que originalmente estão situados texto, cenário e personagens, a montagem tem dificuldades em descolar o público das imagens pré-concebidas de uma Alemanha nazista, dos campos de concetração e dos clichês de uma luta de classes romântica. Fica a impressão que está a se assistir a uma peça com preocupações de relato histórico, e não a uma provocação aos tempos atuais, onde os temas e preocupações de Bertold Brecht ainda se fazem presentes. Assim, “A grande parada” perde um caráter de ineditismo que poderia explorar, principalmente se consideramos o contexto social e cultural do Vale do Itajaí em que a montagem e o grupo “VísCera” estão inseridos.
Por fim, permanece a questão: o que resta da grande parada? Problema interessante que a peça poderia provocar com maior contundência.

Foto: Divulgação

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Eteocles, Antígona, Polinices y otros hermanos

por Viegas Fernandes da Costa

“Eteocles, Antígona, Polinices y otros hermanos”, dirigida por Farley Velásquez e apresentada pelos alunos de Teatro da Universidad de Antioquia (Medellín, Colômbia), abriu a Mostra Universitária Ibero-Americana, na tarde de segunda-feira (12/07). Em uma espécie de arena montada sobre o palco do Grande Auditório Heinz Geyer do Teatro Carlos Gomes, o grupo Colombiano adaptou textos da tragédia grega escritos por Sófocles e Ésquilo. Na primeira parte da peça, os atores interpretam a história dos irmãos Polinice e Etéocles, que lutam entre si até a morte pelo domínio de Tebas. Após a luta, o rei Creonte proíbe o sepultamento do corpo de Polinice, considerado traidor. Já na segunda parte, a trama se desenvolve em torno das irmãs de Polinice e Etéocles, Antígona e Ismênia. Enquanto Antígona resolve afrontar as leis do Estado sepultando o irmão proscrito, Ismênia opta por respeitar as leis em temor a estas. Como pano de fundo a peça apresenta a questão da natureza da justiça e da verdade.
Com aproximadamente duas horas de duração, a montagem desenvolvida pelos alunos da Universidad de Antioquia apresenta dois momentos estéticos e de gênero diferentes: o primeiro que chamaremos de trágico e que apresenta uma estética mais ritualística, e o segundo, melodramático e palaciano. Essa distinção da peça em dois momentos talvez tenha prejudicado o desenvolvimento de uma montagem que inicia com muita força simbólica, porém conclui-se num “arrastar” demasiado dramático e cansativo. Uma proposta que tivesse optado por manter a linha condutora ritualística, heróica e quase tribal da primeira parte, possivelmente teria mantido a suspensão da plateia, mergulhada que estava nos movimentos, jogos vocais e recursos cênicos adotados no espetáculo.
Como pontos altos da peça podemos destacar o figurino e suas máscaras hediondas, o cenário, a impressionante qualidade vocal, preparo físico e engajamento dos atores, bem como a sincronicidade nas saídas e entradas em cena. Em tempos contemporâneos, onde espetáculos precisam ser montados “a toque de caixa”, é bom vermos um trabalho de preparação vocal e corporal que exigiu trabalho e estudo intensos. Por outro lado, a trilha sonora, extremamente repetitiva e pouco original, e a criação de uma iconografia que já se transformou em clichê, como por exemplo o momento em que Tirésias surge em cena, no alto de um monte, em meio à névoa e uma luz baça (lembrando motivos bíblicos que por diversas vezes afrontaram nossas retinas), frustram o extraordinário impacto que o espetáculo anunciava.
Ao término do espetáculo, e considerando suas qualidades e problemas, permaneceu a impressão, entretanto, que “Eteocles, Antígona, Polinices y outros hermanos” proporciou uma experiência de fruição artística memorável.

Fotos: Daniel Zimmermann / CCM Furb

terça-feira, 13 de julho de 2010

O abajur lilás

O abajur lilás


por Viegas Fernandes da Costa

Na noite do domingo (11/07) entrou em cena, no palco do “Pequeno Auditório Willy Sievert, do Teatro Carlos Gomes, o grupo de teatro “Por que não?, composto por estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (RS). Sob a direção de Felipe Martinez, apresentaram ao público a peça “O abajur lilás”, escrita por Plínio Marcos em 1969.
O espetáculo conta a história de três prostitutas que vivem sob o jugo despótico de um cafetão homossexual, dono de um prostíbulo, e seu capanga, um monossilábico e frio torturador. A montagem original, realizada pelo grupo “Por que não?”, ocorria no interior de um bar verdadeiro, e os personagens interagiam com os clientes desse bar. Visando ampliar as possibilidades de circulação do espetáculo, o grupo resolveu readaptá-lo para o palco. Entretanto, o “bar” permanece no horizonte da peça, principalmente nos momentos em que o cafetão dirige a palavra ao público, intimando-o enquanto frequentador do seu estabelecimento e dos corpos das prostitutas, bem como na recepção dos espectadores, momento em que os personagens perambulam entre as poltronas a fim de interagir e provocar “possíveis clientes”.
O clima inicial criado pelos atores foi, possivelmente, a maior virtude do espetáculo. A interação com o público criou uma ambientação e uma expectativa em relação à peça que, ao se apagarem as luzes da plateia, deixou a todos em suspenso. Entretanto, a forma como os atores lidaram com o texto de Plínio Marcos e o uso dos elementos de cena, que sobravam sem uso no palco, geraram certa frustração.
Interpretar Plínio Marcos não é tarefa simples. O realismo cruel e a complexidade dos personagens exigem do ator não apenas estudo e preparação cuidadosos, mas também grande nível de entrega. Em Plínio, a representação não basta. Também o fato de vivermos uma realidade contemporânea de extrema violência urbana, exige que o texto de Plínio Marcos seja relido e desterritorializado de sua condição original, a fim de que o público saia do conforto que naturaliza a violência para o desconforto que o inédito pode ofertar. Ao representarem os personagens de “O abajur lilás”, os atores não conseguiram construir este inédito. Ao assistirmos a peça, ficou claro que aqueles personagens eram tão somente isso, personagens de um texto dramatúrgico. Se a intenção era a de transportar a plateia para o interior de um bar licencioso, uma whiskeria, e fazê-lo partícipe do drama vivenciado pelas prostitutas, subjugadas pela força do verbo, do dinheiro, do uso venal de seus corpos e da brutalidade física, tal intento não se concretizou. E a forma esteriotipada como a homossexualidade do cafetão foi apresentada, incorre na possibilidade de se reforçar, junto ao público, a perspectiva simplista da diferença. Se as prostitutas são agentes e pacientes de uma realidade social, econômica e moral repressora, o cafetão homossexual e seu chacal também o são, e esta perspectiva podia ter sido melhor explorada.
Por fim, apesar dos problemas, das possibilidades não exercitadas e de certo pudor por parte dos atores, o espetáculo arrancou do público aplausos entusiasmados.

Fotos: Daniel Zimmermann / CCM Furb

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Ascensão e queda da cidade de Mahagonny

Ascensão e queda da cidade de Mahagonny

por Viegas Fernandes da Costa

O espetáculo “Ascensão e queda da cidade de Mahagonny” abriu, na noite de sábado (10/07) a Mostra Universitária Nacional” do 23° Fitub. A peça foi montada e apresentada pela Cia. Teatral Acidental (Unicamp – Campinas/SP) sob a direção de Marcelo Lazzarato, a partir de uma adaptação do texto Mahagonny, de 1927, escrito pelo dramaturgo alemão Bertold Brecht (1898-1956). Em 1930, Brecht revisou o texto original e, através de uma parceria com o compositor Kurt Weill, produziu “Ascensão e queda da cidade de Mahagonny” (“Aufstieg und Fall der Stadt Mahagonny”). A intenção de Brecht com esse “épico musical”, que narra a história de três fugitivos encurralados no deserto e ali decidem fundar uma cidade chamada Mahagonny, arapuca que tem como isca o prazer, era, entre outras coisas, o de questionar o modelo de ópera até então estabelecido.
A adaptação da Cia. Teatral Acidental procurou manter o texto e a ambientação criados por Brecht, porém buscou “atualizar” a peça inserindo elementos identificados com a cultura pop, como a substituição das músicas de Weill por melodias dos Beatles, por exemplo. Esta opção musical nos leva a pensar se o grupo não pretendia situar temporalmente Mahagonny em um referente moral e cultural ligado à contracultura. Se “Ascenção e queda...” narra a história de uma utopia onde todos os prazeres são permitidos, podemos conjecturar na geração que cresceu ouvindo os Beatles e que na década seguinte viveu o Vietnã e Woodstock. A inserção da melodia de “Imagine” (Lennon) no repertório reforça a tese. A mesma geração que mais tarde envelheceu e teceu uma malha moral repressora, criando filhos de uma “geração perdida” e – por que não dizer? – careta. Também Mahagonny afunda na repressão, nas leis sem sentido, como aquela que proíbe arrotar, e morre. No cerne de tudo, a crítica de Brecht – e da Cia. Teatral Acidental – à ideia de que o dinheiro pode comprar a felicidade; bem como a denúncia do capitalismo.
A montagem que o grupo da Unicamp trouxe para o Fitub empregou mais de uma dezena de atores, cuja movimentação no palco foi excepcional. Ricos ainda foram os cenários e os elementos de cena, constantemente modificados pelos atores. A disposição destes e dos elementos cênicos muitas vezes construíam imagens de grande apelo poético e que brincavam com uma iconografia sacralizada pela cultura pós-industrial. Movimentação, humor e a criatividade no uso dos elementos cênicos foram as grandes virtudes da montagem que, até certa medida, compensaram as deficiências vocais notadas na apresentação. Por outro lado, a tentativa de fazer com que cada personagem (e eram muitos) fosse passível de reconhecimento por parte do público, impediu que os mesmos fossem verticalizados. Assim, apesar dos esforços de cada ator, os personagens ficaram exageradamente tipificados, e penso que tal opção fez com que a peça perdesse profundidade, ao ponto de beirar o panfletário. Panfletarismo que ficou evidente ao final do espetáculo, momento em que cada ator cruzou o palco segurando cartazes com advertências que verbalizavam uma crítica social, já implícita à trama, que melhor estariam se inerentes à constituição dos personagens e nas sutilezas da narrativa.
Aplaudida entusiasticamente pelo grande público presente ao Teatro Carlos Gomes, “Ascensão e queda da cidade de Mahagonny” deixou a impressão, entretanto, que a adaptação poderia ousar mais, antropofagizando Brecht para vomitá-lo e, assim, construir um espetáculo que dialogasse de forma ainda mais contundente com os tempos que vivemos.

Fotos: Daniel Zimmermann / CCM Furb

domingo, 11 de julho de 2010

Discurso de Pita Belli na Abertura do 23° FITUB

Boa noite!

Bem vindos ao 23° Festival Internacional de Teatro Univeritário de Blumenau!

É com imenso contentamento que recebemos todos aqui para darmos continuidade a uma intensa semana teatral. Digo continuidade porque finalizamos agora a pouco a III Jornada Latino Americana de Estudos Teatrais, com gente, muita gente, de muitos cantos. Uma troca intensa de informações sobre pesquisa teatral no âmbito das universidades brasileiras e latino-americanas.
E no festival? Bem, no festival teremos espetáculos, oficinas, vídeos, análises, conversas, muitas conversas sobre o que vemos e o que fazemos.
Neste ano, para todas as atividades realizadas pelo festival, contamos com companheiros de diversos cantos do mundo: Canadá, Cuba, Portugal, Estados Unidos da América, Chile, Colômbia, Argentina. E desse nosso grande Brasil. Culturas diversas que se unem para respirar teatro, transpirar teatro.
Importante frisarmos que o festival internacional de teatro universitário de Blumenau é, há 23 anos, uma promoção da Fundação Universidade Regional de Blumenau, que, ademais, conta sempre com vários parceiros e apoiadores para que consigamos levar a cabo tantas ações. Neste ano temos como parceiros o Governo do Estado de Santa Catarina, através do Funcultural, a Cia. Hering e o Grupo RBS.
No entanto, fundamental mesmo para que tudo aconteça, é a força jovem que está presente em nossa equipe de trabalho. Equipe que, diga-se, é, em sua grande maioria, formada por voluntários. É esse trabalho que, nos bastidores, garante que tudo aconteça a contento e com contentamento. Mais, com o entusiasmo daqueles que, ao doarem sua energia para a realização deste festival, estão investindo na cultura do teatro e de blumenau, com a certeza de que se farão mais fortes pelas suas mãos.
Além disso, temos voluntários de vêem a blumenau especialmente para trabalhar na equipe de organização. Estão presentes aqui a USP, o Conservatório Dramático Musical de Tatuí- SP e a Fundação Catarinense de Cultura. Croata, Jaime, Falcão, Osni.
Cabe lembrar, ainda, que neste ano, a Mostra Blumenauense de Teatro, que acontecerá dentro da programação do Festival, é uma parceria com a Fundação Cultural de Blumenau e com a recém criada Abluteatro – Associação Blumenauense de Teatro, mais uma iniciativa da ativa mocidade teatral daqui.
Por fim...
Obrigada a todos, todos e, em especial, ao público, que a cada ano, com sua presença, confirma a necessidade da continuidade deste festival.

Bom festival a todos!

Pita Belli (Patrícia de Borba)
Coordenadora do 23° FITUB e Professora do Dep. de Artes da FURB

sexta-feira, 9 de julho de 2010

As Folhas de Cedro, de Samir Yazbek, faz estreia nacional na abertura do 23º FITUB

por Alessandra Meinicke

Nesta sexta-feira, dia 9 de julho, às 20h 30 no Grande Auditório do Teatro Carlos Gomes acontece a estreia nacional do espetáculo As Folhas do Cedro da Companhia Teatral Arnesto nos Convidou, marcando a abertura do 23º Festival Internacional de Teatro Universitário de Blumenau, realizado pela FURB.
Com texto e direção assinados por Samir Yazbek, a peça conta a história de uma mulher de meia idade que, por meio de sua memória e imaginação, revisita suas raízes, procurando sua identidade.
O elenco de As Folhas do Cedro é formado por Helio Cicero, Daniela Duarte, Douglas Simon, Gabriela Flores, Mariza Virgolino, Rafaella Puopolo e a pequena Marina Flores, de oito anos. O espetáculo tem ainda cenografia e figurino de Laura Carone e Telumi Hellen, trilha sonora original de Marcello Amalfi, iluminação de Domingos Quintiliano e preparação de atores de Antônio Januzelli (Janô).
Para esta obra, Yazbek, filho de imigrantes libaneses, buscou inspiração em sua ascendência, bem como na história de várias famílias de imigrantes libaneses e de outras nacionalidades. O autor esclarece que a peça não é autobiográfica: “É uma obra de ficção a partir de um universo pessoal, uma meditação sobre temas que me interessam”, explica.
O espetáculo de abertura tem entrada franca, mas é necessário retirar ingressos na bilheteria do Festival, a partir das 13 horas desta sexta-feira, no Teatro Carlos Gomes.

Texto: Alessandra Meinicke / Coordenadoria de Comunicação e Marketing  da Furb.
Foto: Divulgação

Apresentação

O Festival Internacional de Teatro Universitário de Blumenau (FITUB) atinge em 2010 a sua 23° edição e se constitui como um dos principais festivais de teatro do Brasil. O evento inicia no dia 09 de julho e se encerra no dia 17. Durante este período serão apresentados 25 espetáculos teatrais, distribuídos nas seguintes mostras: Espetáculos Convidados, Mostra Universitária Nacional, Mostra Paschoal Carlos Magno Universitária Latino-Americana, Mostra Blumenauense e Palco Sobre Rodas.
O FITUB conta ainda com a III Jornada Latino-Americana de Estudos Teatrais, a Mostra de Vídeo Rute Zendron, além de debates, oficinas e apresentações musicais.
O Sarau Eletrônico, site de literatura mantido pela Biblioteca Universitária da FURB, estará acompanhando o evento e comentando as peças neste espaço.
Maiores informações sobre o FITUB podem ser acessadas AQUI.
A programação do evento pode ser consultada AQUI.