sábado, 22 de novembro de 2014

Visita a Quintana

Viegas Fernandes da Costa

... então o sujeito vai ao antigo Hotel Majestic, hoje transformado em casa de cultura, sobe ao segundo andar e se depara com o quarto de Quintana. A pequena cama, a máquina de escrever, os livros, o copo sobre o jornal, a caixa de bombos sobre a estante, os cigarros... O poeta ainda sussurra seus versos. 
O sujeito tantas vezes já subira as antigas escadarias do hotel, nunca antes deparara-se com a existência daquele quarto reconstituído. Presente inesperado! A mulher que ama, ao seu lado, pede-lhe que leia o poema afixado à parede, na ante sala. Um pouco envergonhando - são muitos os turistas por ali - titubeia as primeiras palavras, os primeiros versos. Quando percebe, é um barco navegando em fonemas líquidos, a potência da voz fenecendo, os versos misturados boiando em seus olhos embaçados.
Não conhecera Quintana pessoalmente, nunca privara deste privilégio. Mas a caixa de bombons guardada no alto da estante, a pequena térmica de café, a desordem no cinzeiro, garantiam-lhe tratar-se de poeta humano, viajante da solidão comum.
... então o sujeito aperta a mão da mulher que ama, beija-lhe a nunca, e sai para beber um café no pátio térreo do antigo Hotel Majestic, hoje transformado em casa de cultura. Cataventos brilhavam no horizonte.

sábado, 6 de julho de 2013

“As estrelas são para sempre”

“As estrelas são para sempre”

Viegas Fernandes da Costa

A tentativa de vivermos um passado que há muito marulha dentro de nós. Personagens em nossa própria história, de alguma forma universal. Não há geopolítica nos territórios que atravessam a existência de cada humano. Infância, juventude, maturidade, velhice: as fronteiras delimitadas nos gestos que nos unem. Na babel da existência humana, dos muitos traços, das muitas línguas, quando falam nossos corpos, fazemo-nos inteligíveis.
Motiva-me esta reflexão a dramaturgia de “As estrelas são para sempre?”, apresentada pelo grupo “Katharsis” da Universidade de Sorocaba na noite de sexta-feira (a peça abriu a mostra universitária nacional do 26º Festival Internacional de Teatro Universitário de Blumenau). Sob a direção de Roberto Gill Camargo, muito mais do que contar uma história, o espetáculo pretende, por meio do corpo do ator, uma linguagem universal capaz de promover no público o reconhecimento de si no outro. Não importa, para este reconhecimento, o idioma em que se anuncia o personagem. Tampouco importam suas origens nacionais, ou o cenário das suas experiências. É no gesto mais fundamental, na expressão do riso infantil ou no tremular da velhice, no rosto crispado ou nos dedos tensos e recurvos de um pé que ainda se busca apoio, que se constrói o diálogo e o reconhecimento entre personagem e público.
Em um palco nu, o espetáculo tem no trabalho de ator sua grande virtude. Isto não significa, entretanto, que “As estrelas são para sempre?” descuide do restante. Figurino, iluminação e sonoplastia são impecáveis. A trilha sonora, executada ao vivo por dois músicos que ocupam o canto direito do palco, com uma grande variedade de instrumentos musicais, é o brinde de luxo. O trabalho do “Katharsis” é surpeendente!
São quatro os atores que representam múltiplos personagens, contracenando principalmente em duplas, cada qual se expressando em uma língua diferente, ora o francês, ora o português, inglês, japonês, espanhol ou, ainda, a mais tenra de todas: os balbucios infantis. O trabalho de preparação de ator é impressionante, mas Andréia Nhur foi, sem sombra de dúvidas, o grande destaque da peça. A atriz, que assina também a preparação vocal e corporal do espetáculo, deu vida a nada menos que  nove personagens com identidades absolutamente distintas, além de interpretar canções do cancioneiro popular. O ponto alto da sua apresentação foi quando apresentou o personagem  “Velho do Bumba-Meu-Boi” em um dos vários esquetes que costuram a dramaturgia.

Se as estrelas são para sempre, não o sabemos. Mas certamente por muito tempo ainda lembraremos da passagem do Katharsis pelo palco do Teatro Carlos Gomes. Um espetáculo comovente, poético, pronto, que arrancou do público aplausos de um entusiasmo sincero.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Videoclipe 25º FITUB


Videoclipe 25º FITUB: Direção Nassau de Souza - Produção Jozzy de Souza

Irmanamos na mesquinharia


Irmanamos na mesquinharia

Magali Moser*

Cena de "A saga do sertão da farinha podre"
Crédito da Imagem: Íria Pieritz
Há uma semana do ano que se torna melhor viver em Blumenau. Os dias frios do mês de julho chegam acompanhados de expectativa e efervescência cultural com o Festival Internacional de Teatro Universitário de Blumenau. Durante o FITUB, a cidade ganha outro ritmo. As ruas, novo colorido, novas caras, novos sons. É o momento de reencontro de pessoas queridas. E também do inevitável contato com a diversidade do mundo. Nestes dias, o diferente se incorpora com naturalidade à paisagem monótona. Quando, além do mês de julho, haveria a possibilidade de encontrar com alguém de Israel pela cidade? Em que outro momento o Teatro Carlos Gomes celebra o papel que lhe cabe de forma tão singular? Quando a arte toma conta do espaço urbano com tanta intensidade?
O mais antigo festival universitário de teatro do País chega a 25ª edição consolidado no calendário cultural. No entanto, é lamentável admitir que um festival desta envergadura tenha sido reduzido em dois dias por conta de outros eventos agendados no teatro. Como lembra o historiador Viegas Fernandes da Costa, apesar da vida longa, surpreende-se também por ainda não contar com o apoio dos governos municipal e estadual.
O descaso com a cultura e a tentativa de manter a cidade sob as definições de “ordeira”, “de família” e com “pessoas de bem”, para usar as palavras da peça A Saga no Sertão da Farinha Podre, foram tratados de forma cômica e crítica no espetáculo apresentado no último sábado, 7, na praça em frente ao Teatro Carlos Gomes, pelo Coletivo Teatro da Margem, de Uberlândia (MG), que em 2010 trouxe para Blumenau o premiado “Canoeiros da Alma”.
Na primeira incursão pelo teatro de rua, a peça dirigida por Narciso Telles reflete sobre a expulsão de artistas que passavam em caravana pelo Sertão da Farinha Podre, com a apresentação do espetáculo Antígona de Sófocles. O grupo enfrenta as hipocrisias de uma cidade que quer manter um rótulo. Há uma tentativa de manter o padrão de “cidade ideal”. As coincidências do espetáculo com Blumenau não param por ai. O texto traz ainda referências à prática de racismo e abuso de autoridade cometido por policiais miliares durante o FITUB ano passado contra um estudante mineiro de teatro. Em outro momento, um dos personagens utiliza um quepe em alusão ao mito de que a parte superior do prédio do Teatro Carlos Gomes tenha sido construída em homenagem a Hitler.
As questões do espetáculo mineiro são próximas à realidade de qualquer cidade. Tanto que ficou a dúvida se foi produzido especialmente para Blumenau. Um dos integrantes do grupo, o ator Samuel Giacomelli esclarece: “na verdade falamos da história de Uberlândia. Claro que em cada cidade que vamos inserimos alguns elementos para ficarmos mais próximos da situação local, mas são muito sutis essas mudanças. Definitivamente, somos todos vizinhos dessas mesquinharias e intolerâncias.”
Se o FITUB deixa uma lição é justamente esta: somente a arte é capaz de nos libertar dessas mesquinharias. A arte tem o estranho poder de nos comover profundamente. Ela fala de nós, de nosso âmago. Permite um olhar sobre nós mesmos. É indispensável por gerar formas mais sensíveis de ver o mundo. A arte só liberta porque é universal, e aí o grupo israelense que apresentou Dona Flor e Seus Dois Maridos nos prova mais uma vez esta constatação ao levar para os palcos do teatro uma obra genuinamente brasileira. A coordenadora do FITUB, Pita Belli, tem razão. Como apontou na cerimônia de premiação do festival, ontem à noite: O FITUB é um patrimônio de todos nós. Que venha logo a próxima edição!

*Magali Moser é jornalista. Este artigo foi originalmente publicado no blog  http://jornalistamagalimoser.wordpress.com/ 

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Os premiados do 25 FITUB.


Espetáculo Baden Baden
Crédito da imagem: Daniel Zimmermann

Espetáculo Destaque da Mostra Paschoal Carlos Magno: LA VIDA ES SUEÑO, da Compañia de Titiriteros de la UNSAM, Universidad Nacional de San Martin, Buenos Aires – Argentina


Figurino: Mirella Granucci, Luísa Bresolin e Alyce Assal, por BADENBADEN, da Universidade do Estado de Santa Catarina/UDESC, Florianópolis/SC.


Cenografia: Eloy Machado, por ESTUFA, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro/RJ.

Iluminação: Amauri Martins, por A VISITA DA VELHA SENHORA, da Universidade Estadual de Maringá/ UEM, Maringá/PR.

Concepção Sonora: Fábio Miranda por MALVA ROSA, da Universidade de Brasília/UnB, Brasília/DF.

Conjunto de Atores: Grupo BadenBaden, por BADENBADEN, da Universidade do Estado de Santa Catarina/UDESC, Florianópolis/SC.

Atriz: Sara Mello Neiva, como Karola, Dona Anne e Joana, em MARIE, da Marie Cia. de Teatro, da Universidade de São Paulo/USP, São Paulo/SP.

Ator: Lucas Dilan, como Platona Jhonys, em A SAGA NO SERTÃO DA FARINHA PODRE, da Universidade Federal de Uberlândia/UFU – Uberlândia/MG.

Direção: Vicente Concílio, por BADENBADEN, da Universidade do Estado de Santa Catarina/UDESC, Florianópolis/SC.

Melhor Espetáculo: BADENBADEN, da Universidade do Estado de Santa Catarina/UDESC, Florianópolis/SC.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Estufa

"Estufa"

Viegas Fernandes da Costa

Crédito da Imagem: Daniel Zimmermann
O sentido é a ausência de sentidos. Dadaístas já pensavam assim lá no primeiro quartel do século XX, e outros antes, e outros depois. Se na urbanidade monstruosa onde bilhões de vidas nascidas para desaparecer, esbarram-se na incomensurável solidão de multidão, há esta sensação de crescer sob os limites de uma liberdade controlada, sob um sol que se anuncia sobre um filtro, qual plantas que crescem sob estufas. Ainda assim, há a arte que se pretende anúncio daquilo que julga importante; a arte que se pretende ave, mas rasteja nos limites da técnica e da sacralidade teórica; o ator que se deixa manipular títere sob as mãos de um diretor/deus. Afinal, o que dizemos? Afinal, para que dizer? Afinal, o que representa a arte, o que significa o teatro?
O Coletivo Kerencaferem, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, trouxe à 25ª. Edição do Festival Internacional de Teatro Universitário de Blumenau o espetáculo “Estufa”, sob direção de Nina Balbi e texto do próprio coletivo. Encenado em espaço allternativo (uma sala de aula), “Estufa” construiu uma ação cênica que tinha como objetivo primeiro discutir o estilo de vida nas estruturas urbanas contemporâneas, mas que resultou principalmente em uma espécie de metateatro.
À plateia contorna um cenário que reproduz uma espécie de estufa. Folhas secas cobrem o chão, e plantas pendem do teto. A atmosfera é pesada. Um quadrado sombrio e úmido no qual se desenrola a não-trama. A um dos cantos, uma cadeira na qual um dos personagens (o ancião sábio protagonizado por um ator jovem que propositalmente não faz qualquer esforço para parecer idoso) passará sentado por toda peça. Qual sua função? Não há função.
Crédito da Imagem: Daniel Zimmermann 
Sobre o chão de folhas secas os demais personagens interminavelmente armam uma espécie de piquenique. A toalha, a louça, os talheres. Tudo deve estar exatamente no lugar. Também os próprios personagens/atores necessitam constantemente reafirmar, afinal, os papeis que supostamente representam, em uma espécie de trama dentro da não-trama. Toda esta ordem, entretanto, esbarra na imposição da desordem, porque esta impera, subterraneamente, e aflora na cena, destruída com violência. O primitivo se impõe, a dor em todos os sentidos protagoniza. Ainda se tenta apelar a uma pretensa razão, e uma voz onisciente (o diretor? Deus? os fatos sociais?) que se anuncia pelo telefone, orienta a ação para que esta funcione. Mas a ação não funciona, e qualquer tentativa de ordenamento esbarra no caos. O caos é tudo que passa a existir, interna e externamente.
“Estufa” apresentou uma ótima ambientação cênica e algumas interpretações convincentes, e se seu objetivo, enquanto proposta dramatúrgica, era provocar incômodo e angústia na plateia, conseguiu. Por outro lado, sua linguagem tornou-se por demais cansativa e hermética, distanciando o público e resultando em uma espécie de vazio. Talvez tenha sido justamente esta a intenção da diretora e do grupo; entretanto, cabe questionarmos qual o lugar de um espetáculo como “Estufa” na cena contemporânea. Se, por um lado, esforça-se por anunciar a modernidade absurda que construímos, por outro, esgota-se num experimentalismo já exaustivamente explorado.
Ao final restou a frustração com a própria peça, e a sensação de que o teatro morreu.

Texto completo de "La vida es sueño"

Na noite do dia 10 de julho, a Compañia de Titiriteros de La Universidad Nacional de San Martin, da Argentina, subiu ao palco do Teatro Carlos Gomes para apresentar a peça "La vida es sueño", uma adaptação do texto homônimo escrito pelo poeta e dramaturgo espanhol Pedro Calderón de la Barca em 1635.
O texto original possui três atos, e pertence à escola barroca. O espetáculo apresentado pelo grupo argentino nesta edição do FITUB foi livremente adaptado por Carlos Almeida, também diretor da peça.
No link abaixo você poderá ler a íntegra do texto original, do século XVII.

La vida es sueño, de Pedro Calderón de la Barca.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

25º FITUB - Peça Badenbaden, da UDESC.

Depoimento da atriz Nica Barros no FITUB de 2012

Depoimento da atriz Nica Barros, que atuou na peça "Clown Bar" (Universidade Federal da Paraíba).

Depoimento da estudante de teatro Cíntia Daniela Galz no FITUB de 2012

Depoimento da estudante de teatro Cíntia Daniela Galz no 25. FITUB.

Depoimento do Diretor de Teatro Carlos Almeida no FITUB de 2012

Depoimento de Carlos Almeida, Diretor da peça argentina "La vida es sueño"
 (Universidad Nacional San Martin)

Depoimento da atriz Angélica Amaral no FITUB de 2012

Depoimento de Angélica Amaral, atriz da peça "Clown Bar" (Universidade Federal da Paraíba)

Depoimento do ator Adriano Amaral no FITUB de 2012

Depoimento do ator Adriano Amaral no 25. FITUB.

Depoimento de Thiago Seifert sobre o FITUB

Assista ao depoimento do publicitário Thiago Seifert a respeito do 25. FITUB.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Depoimento de Irad Rubinstein


Assista ao depoimento de Irad Rubinstein, diretor da peça israelense "Dona Flor e seus dois maridos", à FURB TV e ao Sarau no Fitub.

A "Visita da velha senhora"

"Visita da velha senhora"

Viegas Fernandes da Costa

Crédito da imagem: Daniel Zimmermann
Na noite de domingo, sob a direção de Mateus Moscheta, o Grupo Teatro Universitário de Maringá (TUM), da Universidade Estadual de Maringá, subiu ao Palco do Grande Auditório Heinz Geyer para apresentar a peça “Visita da velha senhora”, escrita em 1956 pelo dramaturgo suíço Friedrich Dürrenmatt (1921-1990). A montagem dos paranaenses participa da Mostra Universitária Nacional do 25º. Festival Internacional de Teatro Universitário de Blumenau.
Sob forte influência de Bertold Brecht, do qual Dürrenmatt era discípulo, “Visita da velha senhora” constitui-se como uma “comédia trágica”, segundo definição de seu próprio autor, e conta a história da pequena cidade de Gullen, empobrecida e esquecida pelo resto do mundo. Sequer os trens param na estação de Gullen, e seus habitantes miseráveis sobrevivem da sopa distribuída pelo poder público. Certo dia, entretanto, para espanto de todos, desembarca na estação a senhora Clara Zahanassian, mulher muito rica e que no passado fora vítima de um julgamento injusto que a degredara de Gullen, fazendo com que sofresse as penas da vida. Retornara à cidade para comprar a justiça que não tivera no passado, e oferta a cada família do lugar uma verdadeira fortuna em dinheiro caso Alfredo Schill, seu antigo amante e o responsável por seus infortúnios, fosse morto. A proposta leva então os habitantes de Gullen da miséria material à miséria moral. Tendo vivenciado a Segunda Guerra Mundial, Dürrenmatt, diferentemente de Brecht, não acreditava na transformação social, e sua visão absolutamente pessimista a respeito da natureza humana pode ser claramente percebida neste texto encenado pelo TUM. “Visita da velha senhora” já recebeu infinitas montagens no Brasil e no exterior, bem como exerce grande influência na obra de diversos autores.            A título de exemplo destas influências podemos citar o romance “Tieta do Agreste” (1977), do escritor brasileiro Jorge Amado, e o filme Dogville (2003), dirigido pelo dinamarquês Lars Von Trier.
Crédito da imagem: Daniel Zimmermann
O espetáculo apresentado pelo grupo do Paraná manteve-se bastante fiel ao texto original. Com um cenário austero, a peça destacou-se principalmente pelo figurino e pela movimentação dos atores, que modificavam os elementos cênicos a fim de criar as ambientações sugeridas pela narrativa. Por outro lado, o excesso de nervosismo fez com que diversos atores se atrapalhassem nas falas, o que acabou prejudicando a apresentação. Também a iluminação nem sempre esteve adequada. Ainda assim, os aspectos positivos da peça, sustentada pelo texto brilhante de Dürrenmatt, tornou possível uma boa percepção do espetáculo por parte do público. Vale destacar ainda algumas soluções dramatúrgicas encontradas pela direção para representar determinadas cenas, como a do início do espetáculo, quando da passagem do trem por Gullen. A solução encontrada pelo diretor para representar a composição férrea foi capaz de criar uma estética profundamente poética.
Mesclando humor negro e drama, “Visita da velha senhora”, apresentada pelo Grupo Teatro Universitário de Maringá, apesar de não entusiasmar, conseguiu comunicar o espírito do texto de Friedrich Dürrenmatt, levando o público ao incômodo do reconhecimento com uma natureza humana vil, hipócrita e egoísta. 
A última ceia, na visão de Mateus Moscheta
Crédito da imagem: Daniel Zimmermann

Vídeo de "A Visita da Velha Senhora"

Vídeo com trechos da peça "A visita da velha senhora", apresentada pelo grupo Teatro Universitário de Maringá, da Universidade Estadual de Maringá, no FITUB

domingo, 8 de julho de 2012

“Dona Flor e seus dois maridos”

"Dona Flor e seus dois maridos"

Viegas Fernandes da Costa

Crédito da imagem: Daniel Zimmermann
“Dona Flor e seus dois maridos” subiu ao palco do Grande Auditório Heinz Geyer como uma das peças mais aguardadas deste 25º FITUB. Adaptada do romance homônimo de Jorge Amado por Yoav Szutan e Irad Rubinstein, foi encenada pelos alunos da Yoram Loewenstein Acting School, de Tel Aviv. Dirigida por Irad Rubinstein, despertou curiosidade justamente por se tratar de uma montagem israelense de um texto tão marcadamente baiano, bem como pelo espanto do público ao saber que o mesmo seria falado em iídiche. Com tantos elementos exóticos somando-se ao realismo fantástico e à sensualidade do triângulo amoroso criado por Jorge Amado, não foi difícil prever a casa lotada na noite de sábado, o que efetivamente aconteceu. Um público curioso e entusiasmado acorreu ao Teatro Carlos Gomes para aplaudir, de pé, a despeito das dificuldades de compreender o idioma dos atores e os problemas técnicos com as legendas, uma montagem primorosa e bastante fiel ao texto original.
Publicado originalmente em 1966, “Dona Flor e seus dois maridos” conta a história do romance entre Flor e Vadinho, este um vagabundo mulherengo que vivia metido em cassinos e prostíbulos. Apesar de traída e explorada por Vadinho, Flor amava seu marido, amante intenso que sempre foi. Depois que este morreu subitamente em pleno carnaval de Salvador, Flor envolve-se com um farmacêutico casto e tímido, incapaz de satisfazê-la sexualmente. Frustrada, inconscientemente chama por Vadinho, que imediatamente acorre do além para atender aos apelos da esposa, provocando uma série de confusões e criando uma espécie de triângulo amoroso. A Montagem dirigida por Rubinstein mantém a estrutura original do romance, bem como sua fábula e seus principais personagens, e parece ter sofrido influência direta do filme homônimo de 1976, dirigido por Bruno Barreto. Leva para o palco os principais elementos identitários da cultura baiana, tão caros a Jorge Amado. O candomblé, a culinária, o carnaval de rua, o erotismo, bem como a hipocrisia oportunista das elites baianas, estão perfeitamente retratadas na peça israelense. Vale destacar ainda a deferência com que o grupo israelense se relacionou com o texto brasileiro, considerado por eles um clássico de nossa literatura.
Crédito da imagem: Daniel Zimmermann
Cientes das dificuldades que o idioma poderia representar para uma plateia brasileira, e preocupados em estabelecer uma empatia direta com o público, algumas palavras e trechos da peça eram falados em português, principalmente aquelas capazes de despertar um reconhecimento pátrio. Não por acaso, a palavra Bahia bailava exaustivamente na boca dos atores, nativos de um país no qual o sincretismo cultural não é tão intenso quanto no Brasil, o que soava um pouco estranho. Afinal, esperava-se que a simples menção ao estado nordestino pudesse despertar na plateia do FITUB uma simpatia identitária, o que obviamente não aconteceu. A parte isto, os atores conseguiram envolver o público, despertar o riso e tornar o espetáculo perfeitamente inteligível e rico.
“Dona Flor e seus dois maridos” trouxe ao palco os ritmos de Salvador, mesclando muito bem o profano e o sagrado. Terreiro, puteiro, cassino e cozinha tomavam a cena sem que houvesse a necessidade de um cenário propriamente dito (salvo a existência de uma pequena mesa com ingredientes da culinária de Salvador, ao canto esquerdo do palco, não há outros elementos cenográficos no espetáculo). A dramaturgia aconteceu principalmente na interpretação dos atores, nos ritmos da percussão capazes de nos devolver ao estado sagrado do primitivo, na iluminação e no figurino – este um espetáculo à parte. Muito interessantes e criativas, também, as soluções encontradas pela direção para responder às necessidades da narrativa. A roleta do cassino, por exemplo, que tanto seduzia Vadinho e o levava à perdição, surgia no palco representada por uma excitante mulher rodando pornograficamente sua saia de cores alternadas (o rubro e o negro), e que engolia, ao final, as fichas do incauto jogador.
Repleto de humor e sensualidade, apresentando soluções dramatúrgicas de grande criatividade, e com atores entregues aos tipos que representavam, “Dona Flor e seus dois maridos”, sob a direção de Irad Rubinstein, surpreendeu, divertiu e mostrou a universalidade de que é capaz a obra de Jorge Amado. 
Crédito da imagem: Daniel Zimmermann

sábado, 7 de julho de 2012

Clown Bar

Clown Bar

Viegas Fernandes da Costa

Sob a direção de José Tonezzi, o Núcleo de Experimentações e Estudos do Cômico (NEECO) da Universidade Federal da Paraíba subiu ao palco do Pequeno Auditório Willy Sievert no segundo dia do FITUB para apresentar ao público a peça “Clown Bar”, um conjunto de esquetes cômicos que não possuem relação entre si, salvo o fato de estarem ambientados em um bar.
O cenário é muito simples, apenas uma mesa coberta por uma toalha e ocupada por uma garrafa de bebida que levava no rótulo o símbolo de algo venenoso. Neste bar cinco atores clowns revezam-se nas cenas cômicas e representam diversos tipos: a balconista ordinária, o bêbado esfarrapado, o playboy, o banhista afetado e esnobe, o pintor ridiculamente travestido à moda clássica e o monge anão com pés de pato (personagem encantador e destaque da peça). As cenas apresentam uma série de gags clássicas, e algumas propõem uma reflexão sobre o fetiche de produtos culturais propalados pela mídia e consumidos pelo público numa lógica de “fast-food” descartável. Neste sentido, a montagem do grupo da Paraíba mantém-se contemporânea. Ao fazer uso de clichês e gags clássicas, desperta o riso, mas também nos leva a questionamentos do tipo: afinal, o que faz tantos e tantos de nós a “curtir”, por exemplo, uma “dança da motinha”?
Se, por um lado, “Clown Bar” tinha como principal propósito divertir e provocar gargalhadas no público, atingiu seu objetivo. Por outro, não apresentou novidades, e muitas cenas tornaram-se excessivamente longas e cansativas. Flertando com a malícia e o absurdo, e justamente por apresentar um universo cômico capaz de ser reconhecido pelo público, despertou empatia da plateia, mas também fez com que os números se tornassem por demais previsíveis. Presos aos tipos, os atores acabaram por reproduzir estereótipos clássicos sem demonstrar grandes recursos de interpretação. Exceção feita ao personagem final da peça, um monge anão e corcunda, com pés de pato e braços cortados, figura grotesca elevada à graciosidade pela qualidade de interpretação de seu ator.
“Clown Bar”, uma peça divertida, mas que podia ter mostrado mais.