O quadro "Dica de Leitura", do programa "Expressão" (FurbTV), discutiu o uso de autores clássicos nas peças do 23º Festival Internacional de Teatro Universitário de Blumenau (FITUB). Assista AQUI o vídeo produzido.
O Sarau Eletrônico acompanhando o 25° Festival Internacional de Teatro Universitário de Blumenau
quarta-feira, 21 de julho de 2010
domingo, 18 de julho de 2010
Espetáculos premiados no 23° FITUB
Ascensão e queda da cidade de Mahagonny (Cia de Teatro Acidental - Unicamp/SP )
Prêmios: Melhor espetáculo, Concepção sonora, Conjunto de atores.
Canoeiros da Alma (Cia de Teatro da Margem - UFU/MG)
Prêmios: Iluminação, Ator, Prêmio especial do júri pela pesquisa com a cultura regional e com o espaço cênico.
O abajur lilás (Grupo de Teatro Por que não? - UFSM/RS)
Prêmios: Atriz, Direção.
A noiva e o condutor (Grupo Coral das Artes Cênicas - IFCE/CE)
Prêmios: Figurino.
A serpente (Grupo CPT - UFRJ/RJ)
Prêmios: Cenografia.
A cena é pública (Grupo de Teatro de Operações - Unirio/RJ)
Prêmios: Menção honrosa.
Tartarugas e Migrações (Novo Núcleo Teatro - Universidade Nova de Lisboa/Portugal)
Prêmios: Espetáculo Destaque da Mostra Paschoal Carlos Magno (Ibero-Americana).
Fotos: Daniel Zimmermann / CCM Furb
Premiados do 23° FITUB
Melhor espetáculo: “Ascensão e Queda da Cidade de Mahagonny”, da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
Espetáculo Destaque da Mostra Paschoal Carlos Magno: TARTARUGAS E MIGRAÇÃO, Grupo Novo Núcleo Teatro da Universidade Nova de Lisboa – Portugal
Figurino: Amidete Aguiar, por “A Noiva e o Condutor”, do Instituto Federal de Ciências e Tecnologia do Ceará
Cenografia: Bosco Bedeschi e Camila Sá, por “A Serpente”, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
Iluminação: Camila Tiago e Nádia Yoshi, por “Canoeiros da Alma”, da Universidade Federal de Uberlândia - UFU
Concepção sonora: Marcelo Lazzaratto e Cia de Teatro Acidental, por “Ascensão e Queda da Cidade de Mahagonny”, da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
Conjunto de atores: Cia de Teatro Acidental, por “Ascensão e Queda da Cidade de Mahagonny”, da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
Atriz: Aline Ribeiro, Como Célia, em “O Abajur Lilás”, da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM
Ator: Samuel Giacomelli, como Homem que abandona a esposa, em “Canoeiros da Alma”, da Universidade Federal de Uberlândia - UFU
Direção: Felipe Martinez, por “O Abajur Lilás”, da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM
Prêmio especial do júri: Coletivo Teatro da Margem, da Universidade Federal de Uberlândia, pela pesquisa com a cultura regional e com o espaço cênico.
Menção honrosa: Teatro de Operações da UNIRIO, pelo trabalho de criação Coletiva.
sábado, 17 de julho de 2010
Paralelas
Paralelas
por Viegas Fernandes da Costa
O espetáculo “Paralelas”, da”SinoS Cia de Teatro”, encerrou a Mostra Blumenauense do 23° Fitub, na noite do dia 16/07 na Fundação Cultural de Blumenau. Sob a direção de Victor Hugo Carvalho de Oliveira, “Paralelas” é uma adaptação do texto “Sobre amores e cigarros”, de Marcelo Bourscheid.
No palco, a história de uma mulher dividida em duas (interpretada pelas atrizes Fernanda Raupp e Gisele Bauer – que também assina a adaptação do texto), casada com um escritor mergulhado em seu narcisismo literário, leitor de Heidegger e que não percebe as necessidades humanas de afeto, sexo e cumplicidade da esposa. Para além de uma reflexão sobre a condição feminina e das frustrações íntimas da personagem, que renuncia aos seus projetos profissionais e pessoais para viver o sonho do marido literato e medíocre, a peça consegue discutir também a valoração da arte na sociedade contemporânea e seu significado para os sujeitos que se aproximam dela.
O cenário é dividido em duas partes, dando a impressão de se estar olhando para duas imagens refletidas no espelho; composto apenas por dois tapetes, duas cadeiras, pilhas de livros e o paletó (que representa o escritor – ou “poetinha de merda”, como é referido pela personagem), no qual contracenam as duas atrizes representando facetas de uma mesma mulher, cada qual em um dos lados do cenário, sem se tocarem. O texto – um monólogo interpretado a duas vozes – é vertiginoso, intenso, visceral, tal qual a interpretação das atrizes, que se entregam à personagem com uma força que impressiona e emociona. A proximidade da plateia, disposta no entorno da cena, a trama dramática desenrolando-se no centro da “arena”, assim como a movimentação das atrizes, excepcionalmente sintonizadas entre si, tornam o público íntimo das angústias, desventuras, indecisões e decisões da personagem.
Com sua estética enxuta, onde todos os elementos de cena têm sua função, uma trilha sonora com canções de Chico Buarque e a extraordinária entrega das atrizes aos papéis, “Paralelas” arrebatou o público e foi uma das melhores peças apresentadas neste 23° Fitub.
sexta-feira, 16 de julho de 2010
A cena é pública
A cena é pública
por Viegas Fernandes da Costa
Com uma proposta de intervenção urbana, na tarde do dia 13/07 apresentou-se o “Grupo de Teatro de Operações”, da UNIRIO (RJ), com o espetáculo “A cena é pública”, na praça do Teatro Carlos Gomes e seus entornos.
Considerando a alma taciturna, prussiana, de Blumenau, a proposta do grupo carioca chamou a atenção pela forma como os atores ocuparam o espaço da praça e da rua, interferindo no cotidiano das pessoas e tentando promover uma situação de tumulto, capaz de convocar não apenas o público já presente ao Festival de Teatro, mas principalmente os transeuntes tangidos pela rotina, a se mobilizar ao redor das ações dramáticas.
O espetáculo inicia com uma sátira à atual conjuntura política brasileira. A cena inicial apresenta um debate entre os principais candidatos à presidência, coordenado por um Nelson Mandela dessacralizado (o ex-presidiário, como a todo instante é referido) e por um José Sarney preocupado em não ser envenenado pelo público. Quanto aos debatedores, nada têm a dizer, e quando convocados a expor suas propostas e questões, limitam-se a luta corporal com seu adversário, transformando a ágora em ringue. Entretanto, a crítica política inerente ao desenrolar da cena não ultrapassa os limites do senso comum, constituindo-se por demais simplista e limitando-se a reproduzir clichês já absorvidos em nossa sociedade. Vale porém destacar a cena da lavanderia, momento em que bandeiras brasileiras são lavadas no chafariz da praça, e a do enforcamento de José Sarney na fachada do Teatro Carlos Gomes. Esta última, se por um lado gerou um impacto visual interessante (não é comum ver-se um corpo balançando enforcado em um dos principais pontos turísticos da cidade), por outro quedou vazia, afinal, qual o motivo do enforcamento? Da forma como foi representado, o ato extremo do senador constitui-se como suicídio, e não como lapidação pública. Também a crítica à sociedade da informação se fez presente, notadamente quando televisores são destruídos, e houve uma tentativa de problematização das relações entre público e atores. Da mesma forma como o público era convidado a se deslocar constantemente em busca das ações dramáticas, era expulso dos espaços para que estes pudessem servir de arena aos atores. O espetáculo contou ainda com muita pirotécnia (inclusive com o uso de motosserra e a queima de fogos de artifício), movimentação (onde atores ocupam fachadas de prédios públicos e privados no entorno do “Carlos Gomes”) e uso de efeitos sonoros impactantes.
Se compreendido enquanto intervenção urbana, “A cena é pública” teve seus méritos. Conseguiu mobilizar as pessoas e fazer um uso diferenciado do espaço público (apesar da cena final – uma guerra de água entre público e atores – , completamente desnecessária e que afastou muitos daqueles que haviam se aproximado para acompanhar o espetáculo). Porém, se pretendido enquanto teatro de rua, “A cena é pública” fracassou completamente. O uso de efeitos visuais e sonoros impactantes prestou-se a tentar camuflar as deficiências vocais e de representação dos atores, bem como uma dramaturgia extremamente pobre e, em muitos momentos, completamente ausente.
Lamentável, diante das possibilidades que o “Grupo de Teatro Operações” podia ter explorado.
Nota: O espetáculo “A cena é pública” foi apresentado também na manhã do dia 14/07, no pátio do Campus I da Universidade Regional de Blumenau.
Fotos: Daniel Zimmermann / CCM Furb
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Canoeiros da alma
Canoeiros da alma
por Viegas Fernandes da Costa
Na noite do dia 14/07, sob o frio intenso e úmido que se abateu sobre o Vale do Itajaí, o “Coletivo Teatro da Margem”, da Universidade Federal de Uberlândia (MG), apresentou o espetáculo “Canoeiros da alma”, no galpão da central de veículos da Prefeitura Municipal de Blumenau. O espetáculo integra a Mostra Universitária Nacional, e a escolha do local da apresentação já indicava tratar-se de peça pouco convencional.

Com texto de Luis Carlos Leite e direção de Narciso Telles, “Canoeiros da alma” surgiu das leituras que o coletivo fez do universo das pessoas que habitam as margens do rio no Vale do Jequitinhonha. Rio que é sempre diferente, quando diferentes os olhos ou a alma de cada um que busca suas águas, suas margens e as experiências que se constróem em seu entorno. O sagrado e o profano, a vida e a morte, a pobreza e a riqueza, o dito e o não-dito, candura e violência são temas que surgem no desenrolar do espetáculo, que apesar de possuir uma narrativa que o conduz, é composto por muitas peças que se sobrepõem, muitas vezes de forma simultânea, convidando o público a ter uma experiência direta e íntima com os personagens. 

“Canoeiros da alma” não é um espetáculo que se assiste, mas do qual se participa. Não há poltronas, arquibancada ou palco, mas um imenso pátio mergulhado na penumbra e no qual atores e público se misturam, os focos de luz indicando pontos de tensão dramática para onde cada espectador é convidado a dirigir sua atenção e no qual se desvelam tipos e suas histórias intrínsecas: um grupo jogando cartas, uma procissão, um oratório, os vendedores ambulantes, o suicida, os noivos, as lavadeiras, a sensualidade da vida e a violência da morte, velas, gritos, voz e força, enfim, todo um universo complexo e do qual é impossível se apropriar enquanto totalidade una. O que se tem é o tumulto da vida real, a azáfama de uma feira, a solidão de multidão, mas que a peça procura problematizar quando propõe histórias que possuem voz e rosto, histórias de gente anônima das quais sequer supomos existência. E todos lavam suas roupas, e todos lavam seus corpos, como se a alma estivessem a lavar.
Sem exageros, um cenário intimista ao qual o público é convidado a tocar e interagir, e com figurinos, trilha sonora e elementos cênicos que procuram inserir a todos no contexto simbólico do Vale do Jequitinhonha, “Canoeiros da alma” impressionou e arrebatou o público.
Fotos: Divulgação e Daniel Zimmermann / CCM Furb.
A grande parada
A grande parada (ou o que ainda resta dela)
por Viegas Fernandes da Costa
O 23° Festival Internacional de Teatro Universitário de Blumenau apresenta também a Mostra Blumenauense de Teatro, nas dependências da Fundação Cultural de Blumenau. Na noite do dia 12/07 entrou em cena o grupo “VísCera Teatro”, com a peça “A grande parada (ou o que ainda resta dela)”, sob a direção de Pépe Sedrez.. O espetáculo é uma adaptação do texto “Terror e miséria no Terceiro Reich”, de Bertold Brecht, escrito em 1938.
“A grande parada” está ambientada na Alemanha nazista da década de 1930, e retrata a miséria e a falta de liberdades civis experimentadas pelo povo alemão durante a constituição do Estado nazista (o III Reich) pretendido por Adolf Hitler, notadamente sob a ótica da luta de classes, onde críticos do regime – e até mesmo pessoas cuja ingenuidade levava-as a declarar suas insatisfações – eram detidas e barbarizadas pelas forças de repressão. Tendo como cenário um campo de concentração (imagem de um campo real, mas também metáfora que aponta para os “campos de concentração” simbólicos: a casa, a fábrica, a rua; espaços vigiados e reprimidos, verdadeiros panópticos de um Estado autoritário que a todos vê, escuta e pune), “A grande parada” mostra que os tentáculos do nazismo não atingiram apenas judeus, mas todos aqueles que destoavam ou questionavam o discurso oficial e, em especial, aponta para a perseguição promovida aos comunistas.
Nessa montagem do “VísCera Teatro” destacam-se cenário, elementos cênicos, a excepcional maquiagem dos atores, bem como a trilha sonora, desenvolvida ao vivo por uma das atrizes. O espetáculo fez uso ainda de recursos audiovisuais, projetando ao fundo da cena imagens de paradas militares e campos de concetração nazistas. Também a proximidade do público, disposto sobre o palco numa espécie de arena, contribuiu para aproximar os espectadores dos dramas interpretados pelos atores. Entretanto, a opção do “VísCera” em montar um espetáculo por demais zeloso ao texto de Brecht, pareceu-me um problema para a peça. Vale dizer aqui que o Bertold Brecht da década de 1930 está morto. Não é mais possível representar uma peça que pretende dizer aquilo que se pretendia na sua concepção. Tempo e sociedade são outros, tal qual nossos signos de identificação. É necessário matar Brecht uma segunda vez para representá-lo no tempo presente. Apesar do subtítulo da peça (“ou o que ainda resta dela”) indicar para um tempo diferente daquele em que originalmente estão situados texto, cenário e personagens, a montagem tem dificuldades em descolar o público das imagens pré-concebidas de uma Alemanha nazista, dos campos de concetração e dos clichês de uma luta de classes romântica. Fica a impressão que está a se assistir a uma peça com preocupações de relato histórico, e não a uma provocação aos tempos atuais, onde os temas e preocupações de Bertold Brecht ainda se fazem presentes. Assim, “A grande parada” perde um caráter de ineditismo que poderia explorar, principalmente se consideramos o contexto social e cultural do Vale do Itajaí em que a montagem e o grupo “VísCera” estão inseridos.
Por fim, permanece a questão: o que resta da grande parada? Problema interessante que a peça poderia provocar com maior contundência.
Foto: Divulgação
quarta-feira, 14 de julho de 2010
Eteocles, Antígona, Polinices y otros hermanos
por Viegas Fernandes da Costa
“Eteocles, Antígona, Polinices y otros hermanos”, dirigida por Farley Velásquez e apresentada pelos alunos de Teatro da Universidad de Antioquia (Medellín, Colômbia), abriu a Mostra Universitária Ibero-Americana, na tarde de segunda-feira (12/07). Em uma espécie de arena montada sobre o palco do Grande Auditório Heinz Geyer do Teatro Carlos Gomes, o grupo Colombiano adaptou textos da tragédia grega escritos por Sófocles e Ésquilo. Na primeira parte da peça, os atores interpretam a história dos irmãos Polinice e Etéocles, que lutam entre si até a morte pelo domínio de Tebas. Após a luta, o rei Creonte proíbe o sepultamento do corpo de Polinice, considerado traidor. Já na segunda parte, a trama se desenvolve em torno das irmãs de Polinice e Etéocles, Antígona e Ismênia. Enquanto Antígona resolve afrontar as leis do Estado sepultando o irmão proscrito, Ismênia opta por respeitar as leis em temor a estas. Como pano de fundo a peça apresenta a questão da natureza da justiça e da verdade.
Com aproximadamente duas horas de duração, a montagem desenvolvida pelos alunos da Universidad de Antioquia apresenta dois momentos estéticos e de gênero diferentes: o primeiro que chamaremos de trágico e que apresenta uma estética mais ritualística, e o segundo, melodramático e palaciano. Essa distinção da peça em dois momentos talvez tenha prejudicado o desenvolvimento de uma montagem que inicia com muita força simbólica, porém conclui-se num “arrastar” demasiado dramático e cansativo. Uma proposta que tivesse optado por manter a linha condutora ritualística, heróica e quase tribal da primeira parte, possivelmente teria mantido a suspensão da plateia, mergulhada que estava nos movimentos, jogos vocais e recursos cênicos adotados no espetáculo.
Como pontos altos da peça podemos destacar o figurino e suas máscaras hediondas, o cenário, a impressionante qualidade vocal, preparo físico e engajamento dos atores, bem como a sincronicidade nas saídas e entradas em cena. Em tempos contemporâneos, onde espetáculos precisam ser montados “a toque de caixa”, é bom vermos um trabalho de preparação vocal e corporal que exigiu trabalho e estudo intensos. Por outro lado, a trilha sonora, extremamente repetitiva e pouco original, e a criação de uma iconografia que já se transformou em clichê, como por exemplo o momento em que Tirésias surge em cena, no alto de um monte, em meio à névoa e uma luz baça (lembrando motivos bíblicos que por diversas vezes afrontaram nossas retinas), frustram o extraordinário impacto que o espetáculo anunciava.
Ao término do espetáculo, e considerando suas qualidades e problemas, permaneceu a impressão, entretanto, que “Eteocles, Antígona, Polinices y outros hermanos” proporciou uma experiência de fruição artística memorável.
Fotos: Daniel Zimmermann / CCM Furb
terça-feira, 13 de julho de 2010
O abajur lilás
O abajur lilás
por Viegas Fernandes da Costa
Na noite do domingo (11/07) entrou em cena, no palco do “Pequeno Auditório Willy Sievert, do Teatro Carlos Gomes, o grupo de teatro “Por que não?, composto por estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (RS). Sob a direção de Felipe Martinez, apresentaram ao público a peça “O abajur lilás”, escrita por Plínio Marcos em 1969.
O espetáculo conta a história de três prostitutas que vivem sob o jugo despótico de um cafetão homossexual, dono de um prostíbulo, e seu capanga, um monossilábico e frio torturador. A montagem original, realizada pelo grupo “Por que não?”, ocorria no interior de um bar verdadeiro, e os personagens interagiam com os clientes desse bar. Visando ampliar as possibilidades de circulação do espetáculo, o grupo resolveu readaptá-lo para o palco. Entretanto, o “bar” permanece no horizonte da peça, principalmente nos momentos em que o cafetão dirige a palavra ao público, intimando-o enquanto frequentador do seu estabelecimento e dos corpos das prostitutas, bem como na recepção dos espectadores, momento em que os personagens perambulam entre as poltronas a fim de interagir e provocar “possíveis clientes”.
O clima inicial criado pelos atores foi, possivelmente, a maior virtude do espetáculo. A interação com o público criou uma ambientação e uma expectativa em relação à peça que, ao se apagarem as luzes da plateia, deixou a todos em suspenso. Entretanto, a forma como os atores lidaram com o texto de Plínio Marcos e o uso dos elementos de cena, que sobravam sem uso no palco, geraram certa frustração.

Por fim, apesar dos problemas, das possibilidades não exercitadas e de certo pudor por parte dos atores, o espetáculo arrancou do público aplausos entusiasmados.
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Ascensão e queda da cidade de Mahagonny
Ascensão e queda da cidade de Mahagonny
por Viegas Fernandes da Costa
O espetáculo “Ascensão e queda da cidade de Mahagonny” abriu, na noite de sábado (10/07) a Mostra Universitária Nacional” do 23° Fitub. A peça foi montada e apresentada pela Cia. Teatral Acidental (Unicamp – Campinas/SP) sob a direção de Marcelo Lazzarato, a partir de uma adaptação do texto Mahagonny, de 1927, escrito pelo dramaturgo alemão Bertold Brecht (1898-1956). Em 1930, Brecht revisou o texto original e, através de uma parceria com o compositor Kurt Weill, produziu “Ascensão e queda da cidade de Mahagonny” (“Aufstieg und Fall der Stadt Mahagonny”). A intenção de Brecht com esse “épico musical”, que narra a história de três fugitivos encurralados no deserto e ali decidem fundar uma cidade chamada Mahagonny, arapuca que tem como isca o prazer, era, entre outras coisas, o de questionar o modelo de ópera até então estabelecido.
A adaptação da Cia. Teatral Acidental procurou manter o texto e a ambientação criados por Brecht, porém buscou “atualizar” a peça inserindo elementos identificados com a cultura pop, como a substituição das músicas de Weill por melodias dos Beatles, por exemplo. Esta opção musical nos leva a pensar se o grupo não pretendia situar temporalmente Mahagonny em um referente moral e cultural ligado à contracultura. Se “Ascenção e queda...” narra a história de uma utopia onde todos os prazeres são permitidos, podemos conjecturar na geração que cresceu ouvindo os Beatles e que na década seguinte viveu o Vietnã e Woodstock. A inserção da melodia de “Imagine” (Lennon) no repertório reforça a tese. A mesma geração que mais tarde envelheceu e teceu uma malha moral repressora, criando filhos de uma “geração perdida” e – por que não dizer? – careta. Também Mahagonny afunda na repressão, nas leis sem sentido, como aquela que proíbe arrotar, e morre. No cerne de tudo, a crítica de Brecht – e da Cia. Teatral Acidental – à ideia de que o dinheiro pode comprar a felicidade; bem como a denúncia do capitalismo.

Aplaudida entusiasticamente pelo grande público presente ao Teatro Carlos Gomes, “Ascensão e queda da cidade de Mahagonny” deixou a impressão, entretanto, que a adaptação poderia ousar mais, antropofagizando Brecht para vomitá-lo e, assim, construir um espetáculo que dialogasse de forma ainda mais contundente com os tempos que vivemos.
Fotos: Daniel Zimmermann / CCM Furb
domingo, 11 de julho de 2010
Discurso de Pita Belli na Abertura do 23° FITUB
Boa noite!
Bem vindos ao 23° Festival Internacional de Teatro Univeritário de Blumenau!
É com imenso contentamento que recebemos todos aqui para darmos continuidade a uma intensa semana teatral. Digo continuidade porque finalizamos agora a pouco a III Jornada Latino Americana de Estudos Teatrais, com gente, muita gente, de muitos cantos. Uma troca intensa de informações sobre pesquisa teatral no âmbito das universidades brasileiras e latino-americanas.
E no festival? Bem, no festival teremos espetáculos, oficinas, vídeos, análises, conversas, muitas conversas sobre o que vemos e o que fazemos.
Neste ano, para todas as atividades realizadas pelo festival, contamos com companheiros de diversos cantos do mundo: Canadá, Cuba, Portugal, Estados Unidos da América, Chile, Colômbia, Argentina. E desse nosso grande Brasil. Culturas diversas que se unem para respirar teatro, transpirar teatro.
Importante frisarmos que o festival internacional de teatro universitário de Blumenau é, há 23 anos, uma promoção da Fundação Universidade Regional de Blumenau, que, ademais, conta sempre com vários parceiros e apoiadores para que consigamos levar a cabo tantas ações. Neste ano temos como parceiros o Governo do Estado de Santa Catarina, através do Funcultural, a Cia. Hering e o Grupo RBS.
No entanto, fundamental mesmo para que tudo aconteça, é a força jovem que está presente em nossa equipe de trabalho. Equipe que, diga-se, é, em sua grande maioria, formada por voluntários. É esse trabalho que, nos bastidores, garante que tudo aconteça a contento e com contentamento. Mais, com o entusiasmo daqueles que, ao doarem sua energia para a realização deste festival, estão investindo na cultura do teatro e de blumenau, com a certeza de que se farão mais fortes pelas suas mãos.
Além disso, temos voluntários de vêem a blumenau especialmente para trabalhar na equipe de organização. Estão presentes aqui a USP, o Conservatório Dramático Musical de Tatuí- SP e a Fundação Catarinense de Cultura. Croata, Jaime, Falcão, Osni.
Cabe lembrar, ainda, que neste ano, a Mostra Blumenauense de Teatro, que acontecerá dentro da programação do Festival, é uma parceria com a Fundação Cultural de Blumenau e com a recém criada Abluteatro – Associação Blumenauense de Teatro, mais uma iniciativa da ativa mocidade teatral daqui.
Por fim...
Obrigada a todos, todos e, em especial, ao público, que a cada ano, com sua presença, confirma a necessidade da continuidade deste festival.
Bom festival a todos!
Pita Belli (Patrícia de Borba)
Coordenadora do 23° FITUB e Professora do Dep. de Artes da FURB
sexta-feira, 9 de julho de 2010
As Folhas de Cedro, de Samir Yazbek, faz estreia nacional na abertura do 23º FITUB
por Alessandra Meinicke
Nesta sexta-feira, dia 9 de julho, às 20h 30 no Grande Auditório do Teatro Carlos Gomes acontece a estreia nacional do espetáculo As Folhas do Cedro da Companhia Teatral Arnesto nos Convidou, marcando a abertura do 23º Festival Internacional de Teatro Universitário de Blumenau, realizado pela FURB.
Com texto e direção assinados por Samir Yazbek, a peça conta a história de uma mulher de meia idade que, por meio de sua memória e imaginação, revisita suas raízes, procurando sua identidade.
O elenco de As Folhas do Cedro é formado por Helio Cicero, Daniela Duarte, Douglas Simon, Gabriela Flores, Mariza Virgolino, Rafaella Puopolo e a pequena Marina Flores, de oito anos. O espetáculo tem ainda cenografia e figurino de Laura Carone e Telumi Hellen, trilha sonora original de Marcello Amalfi, iluminação de Domingos Quintiliano e preparação de atores de Antônio Januzelli (Janô).
Para esta obra, Yazbek, filho de imigrantes libaneses, buscou inspiração em sua ascendência, bem como na história de várias famílias de imigrantes libaneses e de outras nacionalidades. O autor esclarece que a peça não é autobiográfica: “É uma obra de ficção a partir de um universo pessoal, uma meditação sobre temas que me interessam”, explica.
O espetáculo de abertura tem entrada franca, mas é necessário retirar ingressos na bilheteria do Festival, a partir das 13 horas desta sexta-feira, no Teatro Carlos Gomes.
Foto: Divulgação
Apresentação
O Festival Internacional de Teatro Universitário de Blumenau (FITUB) atinge em 2010 a sua 23° edição e se constitui como um dos principais festivais de teatro do Brasil. O evento inicia no dia 09 de julho e se encerra no dia 17. Durante este período serão apresentados 25 espetáculos teatrais, distribuídos nas seguintes mostras: Espetáculos Convidados, Mostra Universitária Nacional, Mostra Paschoal Carlos Magno Universitária Latino-Americana, Mostra Blumenauense e Palco Sobre Rodas.
O FITUB conta ainda com a III Jornada Latino-Americana de Estudos Teatrais, a Mostra de Vídeo Rute Zendron, além de debates, oficinas e apresentações musicais.
O Sarau Eletrônico, site de literatura mantido pela Biblioteca Universitária da FURB, estará acompanhando o evento e comentando as peças neste espaço.
Maiores informações sobre o FITUB podem ser acessadas AQUI.
A programação do evento pode ser consultada AQUI.
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